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Mecanização tem avanço lento em canaviais "independentes" | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

Mecanização tem avanço lento em canaviais "independentes"

A área de cana-de-açúcar mecanizada no Estado de São Paulo atingiu 72,6% na safra 2012/13. Segundo dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), a utilização de máquinas para evitar a queima na hora da colheita ficou em 85% nas usinas. O gargalo ainda está nos fornecedores independentes: o percentual fica pouco acima dos 50%.

De acordo com o dado mais recente do governo paulista, dos 4,66 milhões de hectares de cana colhidos no Estado no ciclo recém-finalizado, 3,38 milhões foram de cana crua e 1,28 milhão de cana queimada, configurando o percentual médio de 72,6% para o Estado. No ano passado, eram 65,5%.

Municípios como Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Barretos, Campinas, Franca e Araçatuba ultrapassaram os 70% de área mecanizada. Os piores percentuais estão em Alto Alegre, com 82% de 12,1 mil hectares plantados queimados, seguido por Flórida Paulista (72,5%) e Parapuã (69,2%).
A dificuldade na implementação de máquinas entre os fornecedores pode ser explicada por se tratarem de áreas menores e menos capitalizadas que as usinas, diz Carlos Eduardo Beduschi, diretor de desenvolvimento sustentável da coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais da Sema.

A tendência é que muitos fornecedores de pequeno porte tenham, no futuro, que deixar de cultivar cana-de-açúcar por falta de mecanização. O prazo para o fim da queima entre os que não assinaram o Protocolo Agroambiental é fim de 2017 nas áreas mecanizáveis (declividade menor que 12%).

Segundo a Canaoeste, a maior associação de fornecedores de cana do país, somente 50% ou 60% da área de 150 mil hectares de seus integrantes está mecanizada. A outra parte está dividida entre os que buscam alternativas para colher mecanicamente e os que têm resistências em migrar para a colheita mecânica, diz o presidente da Canaoeste, Luiz Carlos Tasso. "Para mecanizar a colheita, é preciso mudar a forma de plantar e muitos não aceitam alterar o manejo que sempre adotaram". São considerados pequenos na Canaoeste produtores que colhem menos de 5 mil toneladas de cana por safra.

Os associados estão distribuídos em mais de 80 municípios paulistas, entre eles Sertãozinho, um dos mais tradicionais do Estado. Os que mecanizaram, o fizeram em parceria com usinas ou compraram máquinas em consórcio com outros produtores rurais menores.

Alguns produtores, diz Tasso, não vão se adequar à mecanização e, por isso, terão de parar de plantar cana. "Produtores que colhem abaixo de 20 mil toneladas vão deixar de existir". O problema, segundo ele, é que a necessidade de escala na agricultura também limita os que querem mudar para outras culturas, como os grãos.
O valor do investimentos em máquinas também é alto, o que restringe a participação de pequenos. Uma única máquina de colher chega a custar R$ 900 mil. Além disso, só a máquina não é suficiente para realizar o processo que demanda caminhões e transbordos.
Alguns, no entanto, encontram suas próprias soluções. O descendente de italianos Paulo Sérgio Passella resolveu vender sua área de 26 hectares de cana em Sertãozinho para comprar outra, com 84 hectares, em Conceição de Alagoas, no Triângulo Mineiro, a 207 quilômetros do município paulista. Com isso, ele conseguiu mecanizar a colheita, uma vez que diluiu os custos de investimento e manutenção em sua área maior, e a partir da parceria com outros produtores vizinhos que fornecem para a mesma usina. Como a terra nessa região ainda não tinha sido usada para cultivo de cana, a produtividade atingiu 110 toneladas por hectare, ante os 80 que colhia em Sertãozinho. "Minha rentabilidade dobrou", afirma Passella.

Mas não serão apenas os pequenos que devem perder com a mecanização. As usinas também terão que abandonar áreas que não forem passíveis de serem mecanizadas. Conforme Beduschi, 8% da área total de cana plantada no Estado tem declividade acima de 12%, o que impede a sua mecanização com o maquinário disponível hoje no mercado. "A indústria está tentando desenvolver máquinas que possam ser usadas em montanhas, mas se não conseguir, essas áreas terão que migrar para outras culturas", diz Beduschi.

A Raízen, a maior companhia do segmento, considera esse cenário em suas projeções. O vice-presidente de Açúcar e Etanol da empresa, Pedro Mizutani, diz que, salvo se novas tecnologias forem desenvolvidas até lá, a empresa deve perder 1 milhão de toneladas de cana (do total de 55 milhões de toneladas que processa hoje) no Estado de São Paulo por conta da mecanização. "São áreas de topografia mais acidentada, principalmente em Piracicaba", diz ele.

Para compensar parte da perda, a Raízen comprou há pouco mais de um ano a cana-de-açúcar da usina São José, que significou 900 mil toneladas da matéria-prima. "Se não fosse essa compensação, a perda alcançaria 1,9 milhão de toneladas", afirma Mizutani.

O protocolo agroambiental foi assinado por 164 usinas do Estado em 2007 como forma de antecipar as datas-limite estipuladas pela lei paulista, tendo em vista os problemas ambientais e de saúde provocados pela queima. Pela legislação, áreas mecanizáveis têm até o fim de 2021 para colocar as máquinas no canavial e áreas não mecanizáveis (declive superior a 12%) até o fim de 2031. Com o protocolo, as usinas participantes precisam finalizar a mecanização em 2014 e 2017, para áreas mecanizáveis e não mecanizáveis, respectivamente.

As signatárias do protocolo são responsáveis por 96% da produção paulista e 48% da produção nacional de etanol. Além de São Paulo, Minas Gerais e Paraná desenvolveram protocolos ambientais similares que preveem a antecipação do fim de queima da cana-de açúcar.

Sistema caro para ser implantado
Apesar do avanço da mecanização das usinas, muitas ainda estão com dificuldades para implantar o novo sistema, que exige investimentos. A maior parte delas está em dificuldades financeiras e por isso não conseguem avançar.

É o caso da Usina Campestre, de Penápolis, em recuperação judicial desde 2009. Há quase três anos o executivo nomeado pela Justiça, José Carlos Fernandes de Alcântara, tenta tirar do buraco a usina, que no passado foi símbolo de pujança da pacata Penápolis, a 54 quilômetros de Araçatuba. Em 2010, seu índice de mecanização era de 8%, subiu para 18% no ano passado. Praticamente sem acesso a crédito, conseguiu o apoio de um credor no leasing de quatro colheitadeiras, com a ajuda das quais pretende elevar a mecanização nesta safra para 40%.

Se há 40 dias não tivesse sido derrubada a liminar que vigorava desde o último semestre de 2012 proibindo a queima da cana na região, a Campestre, com um baixo índice de mecanização, teria que ter contratado o dobro do número usual de cortadores de cana para fazer frente à colheita de cana crua, um gasto adicional nada desejado para uma empresa em dificuldades. Há quase 40 usinas na mesma situação que a Campestre no Centro-Sul. Mas com a trégua judicial, conta Alcântara, a usina contratou 900 trabalhadores para realizar a colheita em vez de 1,9 mil


Fonte: Valor

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